segunda-feira, 3 de junho de 2013

Do tempo que perna de meia-calça virava touca

Vamos fazer assim: liga o som aí antes de começar a ler a postagem. O Dia dos Namorados está chegando e a gente pode fazer a leitura acontecer num clima romântico, além de nostálgico.


Se o negócio é música romântica, então, inevitavelmente teremos que recorrer às canções da década de 1970. Ô povo que era romântico, sô! Não é à toa que atribuem canções setentistas aos emos.

Mas, por falar nisso, você dançava música lenta nas festas? É, música lenta? Lembra não? Ia-se para as festas, agitava com a disco, depois tinha o momento black (Get on up/like a sex machine), para depois vir a parte que todo mundo tava esperando, uns para chegar no "broto", outras para ver chegar um "cara pinta" chamando para dançar. E para nós homens era adrenalina pura: "tomar uma cortada" (significa: a garota não aceitar o convite) era algo que estragava não só a noite, mas também a vida.

E era bacana. As festas aconteciam geralmente no terreiro das casas. Esvaziava-se a sala. Os caras que ganhavam um troco alugando e operando som nos fins-de-semana, depois de passar a semana na batalha no chão de uma fábrica qualquer, levavam não só aquelas caixas possantes que davam aquele grau no som da vitrola, mas também o jogo de luz, sem esquecer o estroboscópio, e povoava as salas com esses equipamentos.

E tudo ficava "num desbunde" só!

Ah, e naquele tempo as festinhas de sábado à noite para comemorar aniversários, formaturas, cirurgia bem sucedida ou um motivo qualquer não eram limitadas a um churrasco que tomava o tempo de todo mundo à espera de um pedaço de carne não, o fino eram os salgadinhos (coxinhas, empadas, pastéis portugueses) ou os capetinhas (azeitona, salsicha e queijo mussarela ao vinagre espetados em palito de dente) que se disputava junto com o "pratinho de arroz com farofa e maionese" lá no fundão do quintal, no meio das bananeiras, onde faziam uma armação com tábuas, simulando uma barraquinha de festa junina, para cercar a área ocupada pelo pessoal em trabalho (geralmente sobrava para os mais bobos da casa). Naquela época havia muito penetra (não convidado ou amigo do amigo do amigo) nas festas, que não ficavam sob vigilância ou eram colocados logo para fora por falta de convite, que nem nos eventos de hoje em dia, pois era muito mais seguro, mas em compensação eram sempre os penetras quem ficava com fome. A panelinha para entregar os pratinhos de salgado e a cerveja gelada funcionava com força!


Quando se tratava de um aniversário, a mesa da cozinha ia para fora e recebia pratos com doces, entre os quais imperavam o brigadeiro, o beijinho de côco e o rei da mesa: o cajuzinho, além da bala delícia, com sua embalagem de franjinha, é claro, cercando o delicioso bolo de doce de leite com ameixas coberto com glacê feito de clara de ovo com pozinho de Ki-suco e confeitado com bolinhas de açúcar prateadas que davam choque nos dentes só de pensar que se mastigaria papel alumínio embolado. Hospedavam o alto do bolo uma ou duas velas acende e apaga coloridas (azul: meninos; rosa: meninas), de cera mesmo, imitando algarismos romanos, sendo que quando duas, o número que representava a dezena era sempre o 1 e o que representava a unidade era limitado ao algarismo 5. Acima da combinação máxima a vela passava a apresentar um "?". E enquanto a vela não entrasse no estado acende-apaga até ser apagada pelos jatos de saliva do(s) aniversariante(s), que cuspia(m) formidavelmente, uma canção conhecida de todo mundo, difícil de se errar a letra, que começava com "parabéns para você", era cantada, sem alteração. Nada de mudança de ritmo, de "com quem será?" ou de "ô parabéns pra você, ô nessa data querida..." ou de "ô fulano eu vou comer seu bolo...", a tradição era mantida em todos os aspectos. "É big, big, big" existia. "Discurso, discurso" também, mas o pessoal não gostava muito de pedir para não atrasar o corte do bolo (primeiros pedaços para os pais e padrinhos) e parar o baile por muito tempo.


As bebidas ficavam estocadas perto da comida. Não havia essa de haver no local um freezer de larga capacidade para mantê-las geladas e nem a de alugar cilindro de chope. Ficavam dentro de um tambor de lata mesmo. Desses de armazenar água para os pedreiros baterem a laje. Enchia-se de serragem para conservar a temperatura das barras de gelo despedaçadas que se comprava na distribuidora de bebidas ou na mercearia melhor equipada do bairro. Antes de ir parar no tambor as garrafas eram batizadas com sal grosso e para tirá-las de dentro, os credenciados, era necessário gostar muito de sentir frio nas mãos, principalmente nas horas mais avançadas da noite, antes da vaquinha (uma espécie de consórcio para comprar mais bebida) pintar, quando as garrafas se encontravam bem no fundo, invisíveis ao olho nu, e tinham que ser tateadas para serem encontradas no meio dos pedaços de gelo e da serragem. Ah, sim, a bebida nesse caso é a brama. Brama era como se referia à cerveja. Naqueles idos, preferir determinada marca de cerveja não se fazia pensar que melhorava o status de ninguém, então-se, tomava-se a mais conceituada na época. Os refrigerantes (Fanta laranja, Coca Cola Família ou guaraná Alterosa litro) iam parar na Prosdócimo ou na Consul da casa. Se não coubessem nela, os apreciadores que tomassem quente mesmo! Acho que esse tipo de "foda-se para os não consumidores de álcool" impera até hoje.


E era raro rolar um trucozinho em alguma parte da casa quando a festa era noturna. E o que as pessoas conversavam durante o ensejo não variava muito. Os marmanjos decidiam entre si quem ia ver se pegava. Podiam ser vistos falando também sobre o novo disco do Rod Stewart, do James Brown ou sobre alguma coletânea lançada pela K-Tel no ano. Perder tempo jogando cartas ou discutindo futebol em uma festa: nem pensar. Festa era sinônimo de dança, de música, de pares dançantes e de conquistas amorosas. Sarrar (casaiszinhos beijando loucamente na boca) era muito melhor!



Já as mocinhas adoravam falar de telenovelas e de fotonovelas. E que estavam fazendo pulserinhas de crochê, seguindo-se um "passa lá em casa para dar uma olhadinha". Quando aproximava a hora da música de dançar coladinho elas encostavam-se na parede do ambiente onde rolava o som. Sabia-se fácil o horário, era só acompanhar a intensidade da luz.

Bem, fala a verdade: rolou uma emoçãozinha de rever tudo isso, não foi? Nosso resgate antropológico te remeteu a uma legítima festa anos 70 do século passado. Comenta ai a respeito. Queremos saber como foi a sua emoção para a gente postar mais coisas desse tipo.

Então, hora de nos despedirmos, mas antes vamos mudar o ritmo da postagem. A hora da música lenta acabou, se pegou pegou, se não pegou fica para a próxima. Diretamente de uma coletânea da K-Tel...


Mamma Mamma Mia
Fudeu esse cabacinho
Mamma Mamma Mia
Fudeu esse cabacinho

        Oh tira e bota, oh tira e bota
        da bunda da cocota
       Oh tira e põe, oh tira e põe....


Alguém me disse que certa vez foi a um baile de debutante em que logo após a valsa o discotecário colocou essa música para tocar. Aí já viu, né, como não devem ter ficado os pais da debutante com os amigos dela cantando o refrão na versão sacana.


Bye... bye...

NO LIVRO "OS MENINOS DA RUA ALBATROZ", O RETRÔ POSTADO AQUI É MOSTRADO MAIS AMPLA E SAUDAVELMENTE. NUNCA PERCA! VEJA A POSTAGEN: http://asbesteirasquerecebo.blogspot.com.br/2015/08/os-meninos-da-rua-albatroz.html

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