terça-feira, 13 de maio de 2014

A gente não sabemos escolher presidente (Pt.8)

"E aí, um sujeito na arquibancada jogou uma banana no jogador quando ele ia cobrar um escanteio. Sabe o que o jogador fez? Pegou a banana, descascou e comeu. Depois, cobrou o escanteio. Foi um ato de racismo por parte do torcedor. O que você acha disso?" Perguntou o primeiro. Estava ele tentando, com o mesmo conto, havia um bom tempo, arrancar qualquer comentário do amigo. Não conseguiu causar-lhe interesse pelo assunto. Ele só queria exibir para o outro que também era uma pessoa informada. Vivem a conversar para lá e para cá. O amigo sempre é o que mais fala. Sempre lhe diz coisas que enchem de prazer saber delas, por isso houve a forra hoje. Correu para tomar a conversa e desde que se encontraram a caminho do ônibus estão nessa tentaiva de se comunicar de uma forma diferente das outras, com a conversa sendo protagonizada inversamente.

NOTÍCIAS MAQUEADAS



Tá certo que não se tratava de nenhum dos temas preferidos do amigo o que se tentava introduzir. Não falavam de política ou de economia; da situação geral do país ou das articulações imperialistas da elite oculta. Mas, pelo menos, fazia menção de ser justiça social. Tanto o amigo fala sobre isso, apresenta bons casos e argumenta bem. Será que não lhe interessa discutir um caso de racismo?

Eis que em uma última tentativa o amigo sucumbiu. Xingamentos próprios de quem é vencido pelo cansaço foram inevitáveis, mas ainda assim é melhor do que a total ignorância. Quando isso acontece fica parecendo que a gente não tem bons assuntos pára colocar na mesa. Ou que somos  totalmente desinformados. Não é por falta de darmos atenção que o próximo não quer nos ouvir. O que queremos é retribuir um pouco quem nos faz dar-lhe atenção e assimilar informações importantes, além de nos estimular a desenvolver o senso crítico. Só queremos retribuir. Pelo menos uma vez, tomar as rédeas da conversa. A última que tiveram era a respeito de um jpeg compartilhado no Facebook que levava adiante a mensagem que um deputado, ex-intrigante do inútil BBB, desejava apresentar um projeto a favor da pedofilia no Congresso. Deu errado o viral, pois as pessoas perceberam que era para chamar atenção e desviar algum assunto importante. Como foi feito usando um resultado falso de uma pesquisa sobre estupro para abafar o recente escândalo envolvendo o Governo e a Petrobrás.

"Pode me dizer se esse jogador que comeu a banana é muito famoso, se ele costuma ser perseguido em campo para que seu futebol seja inibido e não prejudique o adversário ou se ele fez ou se falaram que ele fez algum comentário indesejável que saiu na mídia?" Envolto apenas com o que ouviu pela televisão e não sendo um acompanhante assíduo de futebol, o iniciador da conversa teve que render-se ao "não" e logo viu que seriam informações importantes para a análise que estava prestes a ouvir. O amigo não poderia completar o que ele não lhe contou, pois não assiste televisão ou ouve rádio ou lê jornais. Ele sabe que esses veículos levianamente desinformam ou informam devidamente o que não é importante.

"Faz sentido alguém ir com uma banana para o estádio assistir uma partida de futebol? Na Europa ainda por cima?" É. Realmente não faz. "E esse cara único estar bem posicionado para jogar a banana no suposto alvo dele, não é providencial demais? Perto para acertar, favorável o bastante para jogar a banana e ter mostrado o ato na tevê; jogar a banana no momento em que a câmera dá o close no cobrador de escanteio?" Realmente, parece ter sido muito engenhoso o agressor. "E com tanta opção, entre elas mostrar o objeto atirado da arquibancada para o juiz e talvez imediatamente anular o jogo, o agredido prefere descascar a banana, gastando tempo do jogo, e comer, podendo sofrer uma congestão ao ter que se lançar para o ataque ainda digerindo o alimento? O que ele fez daria mais ibope, claro. mas não lhe parece script? Desses que compartilham da causa o atirador de bananas, o jogador alvo de bananas, o operador de câmera e os que não estão na lista de artistas principais?"

Ok. Parece mesmo mais uma daquelas cenas fabricadas para dar falatório, mas para que? Foi perguntado para o cético, ao que ele respondeu: "Vai ver tem podre para tapar urgente, quem sabe preparar a paz para a Copa no Brasil ou tapar a corrupção como sempre". E teve questionamento válido: "Poxa, a coisa aconteceu na Europa, por que iriam acobertar algo no Brasil com os rumores desse caso?". E ele: "A Copa também é produto de enriquecimento de europeu e esse pessoal de governo e mídia anda de mãos dadas e um ajuda o outro em qualquer lugar e por qualquer motivo. Se precisarem que montem uma cena noutra parte do mundo e no esporte para tapar uma corrupção no Brasil, eles o fazem. Têm lá suas compensações. Isso é uma organização. São investidores no Brasil em apuros. A elite que realmente manda nisso aqui. E vão continuar mandando se a gente não parar de dar atenção para coisas desimportantes como jornalismo e futebol.

Quando um sujeito inteligente não se intimida de mostrar sua inteligência  e de levar à luz para os seus amigos o que sabe, ele se vê estimulando um crescimento intelectual ao seu redor. Neste país onde a mídia articula para conseguir o que quer e às vezes faz parecer impossível que uma notícia que circulou uma semana inteira, tanto o acontecimento quanto o que veio depois, sem deixar de ser falada por ninguém na rua ou nas redes sociais, seja falsa, o intelectual teve que se curvar para a resposta que o amigo em desenvolvimento do senso crítico-analítico lhe deu: "Isso deve ter tomado o lugar dos jpegs do projeto do deputado ex BBB que não conseguiu ganhar a atenção do povo porque depois do erro da pesquisa sobre estupro ninguém mais acredita nessas histórias quando o foco está na vida brasileira. Foram longe e jogaram pesado.". À qual, o intelectual só completou: "E gastaram dinheiro para produzir a notícia. A organização internacional  toda gastou". De mim também essa notícia só conseguiu um "foda-se". Tô preocupado é com o que esses ladrões estão preparando para continuar roubando na política e não com futebol ou com tevê que precisa recuperar o prestígio e faz teste de audiência forçando o público a repetir o que vê na tela. Verdade é o que a gente vê na rua. Nem no estádio dá para saber mais se é ou não. Seguindo o ponto de vista da imagem ou de quem apresenta uma notícia, bandido vira vítima e político corrupto vira santo. Na dúvida, repercutir é dar tiro no pé. Guarda para si. Vai ler.

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