Estava eu na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, à contemplar os monumentos que deram fama de modernista viabilizador de progresso à Juscelino Kubtschek, ex-prefeito da cidade, ex-Governador de Minas Gerais e ex-presidente da república do Brasil.
Deitado na grama da orla, eu ouvia os automóveis, uma das marcas de JK, que face à sua sanha por progresso, desenvolveu a indústria automobilística do país. Passavam roncando motores para lá e para cá pela avenida de contorno da lagoa, Otacílio Negrão de Lima, que sediou outrora grandes prêmios de Fórmula 1 e outras façanhas.
Na Casa do Baile, JK, pé de valsa, dava frequentemente seu show de exímio dançarino de tango e bolero. Na outra extremidade, ao fim do grande lençol de água represada, que na era de ouro da Pampulha era percorrido de barco, jazia o, desde 1957, Museu de Arte, que em 1946 deixou de ser o luxuoso cassino do projeto original de Oscar Niemeyer, pois, o General Eurico Gaspar Dutra proíbiu a prática de jogos no Brasil.
Desviando-se os olhos para o Oeste, não muito longe da antiga Casa do Baile, se localiza o Iate Clube. E indo mais adiante, a linda e de arquitetura anárquica para um templo religioso Capela de São Francisco de Assis. Obras que Juscelino quando prefeito de Belo Horizonte concentrou no então deserto Norte da cidade, graças à sua vocação para desbravador de localidades e construtor de infraestrutura de ligação com regiões remotas desperdiçadas pelos administradores públicos, que o fez ganhar a alcunha de desenvolvimentista e alçar vôos na política, na qual o médico urologista entrou sem muita pretensão de entrar.
Do advento do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, JK já mostrava certa tendência, espontânea ou não, de se relacionar com comunistas. Os amigos Oscar Niemeyer, o arquiteto, Roberto Burle Max, o paisagista, e Cândido Portinari, autor das gravuras no interior da igreja de São Francisco, foram filiados do PCB, alguns, e levemente ativistas, outros. Dois deles tendo feito parte do pelotão de comunistas que deram forma ao prédio da sede das Nações Unidas em Nova York, que capitalistas adoram ostentar.
Oscar Niemeyer, o mais assíduo, tendo, inclusive, oferecido em 1945 seu escritório para encontros do PCB de Luís Carlos Prestes, o homem que propagou a ideologia vermelha no Brasil a partir de 1922, teve, em 1947, seu projeto escolhido para servir como base para o definitivo. Cândido Portinari, cuja arte sempre foi politizada e preocupada com a pobreza no Brasil, tendo como obra-prima o quadro Retirantes, de 1944, pintou o painel Guerra e Paz, que decora a sede da ONU em Nova Iorque, o que terminou em 1956. Junto com Niemeyer, Burle Max foi lembrado por JK para participar da construção do Conjunto Arquitetônico de Brasília, hoje patrimônio da humanidade junto com o da Pampulha.
Desde os anos 1950, o Brasil recebia infiltrados soviéticos com a missão de recrutar pessoas para militar em função da implantação do socialismo no país. Já no governo de Juscelino Kubtschek, sob a guarda da Státní BezpeÄnost, o serviço secreto tcheco, a persuasão soviética ganhava adesão junto à presidência. Contam algumas fontes, que Juscelino Kubtschek, então presidente da república, sofria espionagens praticadas por esses espiões soviéticos, os quais frequentavam seu círculo. Gente da competência do batedor que teria operado como residente no Brasil a partir de 1954, logo que o KGB foi criado, Mikhail Ivanovich Filonenko e sua esposa Anna Feodorovna.
Kubtschek, o sobrenome da mãe Julia, seria de procedência judia. Seria uma ascendente tcheca dos Kubíček. O que provavelmente se ligasse ao fato de haver na era JK grande influência tcheca no país. Poderia ter isso possibilitado ao StB organizar agentes em rezidenturas e providenciar espionagens. Mikhail Filonenko e sua esposa pertenciam à agência tcheca de espionagem. Judeus e maçons frequentes no meio do Poder no Brasil já se observava de longas datas.
A bem da verdade, o Brasil dos idos de JK estava sendo tomado por muita pobreza ao mesmo tempo que soprava o vento da prosperidade. Muita injustiça social idem. Cresciam favelas e a desigualdade entre as classes mais e menos abastadas de riqueza. E isso é que fez com que uma leva muito grande de pessoas aderisse as acepções comunistas.
JK tentava diálogo com as duas vertentes políticas. Conversava com comunistas e com negocistas. De um lado ganhava a simpatia do povo, do outro atraía capital estrangeiro. Ainda que administrado não com a devida responsabilidade, pelo bem do cumprimento de um plano de metas que visava progredir o Brasil sob o lema “50 anos em 5”.
Não importando por qual dos lados pendia, Juscelino sofreu muita oposição por políticos do partido que derrotou em sua campanha eleitoral, a UDN. O principal deles: Carlos Lacerda. Jornalista que ia fundo na construção da imagem de um JK comunista, com o propósito de derrubá-lo. Inaugurando uma das características da política brasileira de hoje em dia: a guerra por meio de boatos e desinformação. E também o “fazer oposição pela oposição”, sem importar com o presente e ou futuro da nação.
Não por acaso, o crescimento da corrupção no país se dá nessa época. Corrupção que chegava ao meio civil, com grandes empresários encostando-se em políticos em busca de favores. O trivial de políticos em busca de cargos que legam poder, rachadinhas, propinas, tráfico de influência e assassinato de reputação viu com a construção de Brasília excelente oportunidade para a formação do caráter do político nacional. Caráter que atravessou gerações e chegou aos tempos atuais sem muito jeito de ser substituído por um de idoneidade melhor.
Nunca o país experimentou tanta prosperidade quanto nos tempos de JK. O Brasil conquistou sua primeira Copa do Mundo de Futebol, sua música apareceu para o mundo no ritmo do Samba e da Bossa Nova. E até outras áreas culturais e artísticas pegaram carona.
Com o fim da censura à imprensa imposta por Getúlio Vargas, o rádio, os jornais e até a jovem televisão iniciaram a caminhada da qual hoje é herança a manipulação da opinião pública através dos órgãos de imprensa e de arte. Iniciando, inclusive, o hábito desses órgãos de subsidiar políticos e viabilizar seus interesses moldando o comportamento do público, em troca de favores, evidência ou verba, no episódio em que Juscelino procurou Roberto Marinho, proprietário do jornal O Globo, para pedir apoio do jornal em sua investida maior, a construção de Brasília e respectiva mudança da Capital da república.
Marinho era contra a mudança, assim como vários políticos e empresários, que não queriam deixar o conforto e regalias construídos no Rio de Janeiro em detrimento de irem morar ou constantemente terem que se deslocar para um lugar no meio do nada, onde o progresso e comodidade já existente no litoral fluminense e no sudeste do país demoraria a chegar.
Além de criar infraestrutura parecida com a de Primeiro Mundo no Brasil, embora tenha vacilado ao iniciar a destruição da malha ferroviária do país, JK se preocupou com os pobres, com a seca do Nordeste e com a Família. Em seu governo, os filhos adotivos passaram a ter os mesmos direitos que os de sangue. JK teria dado de presente para a filha adotiva a outorgação dessa lei.
Entretanto, a alta moralidade e o populismo têm seu preço: a máquina pública ampliou seu orçamento. Novos servidores públicos foram lançados na folha de pagamento do Estado. E novos cargos políticos idem. Juscelino teria sido sincero ao deixar claro que tinha consciência de que endividava o país, mas, o progresso daria condições para que os governantes futuros saldassem a dívida sem perder as conquistas. Rompeu com o FMI, entidade da qual fez muitos empréstimos, no melhor estilo “devo não nego, pago quando puder”.
Essa utopia era duvidosa. E quem duvidou fez a melhor previsão.
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Um comentário:
e dai que veio o devo nao nego e pago quando puder kkkkk
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