segunda-feira, 19 de julho de 2021

Viver bem é muito fácil: Como observar a realidade

Vou discorrer nesta postagem sobre as ideias do filósofo indiano Jiddu Krishnamurti (imagem) sobre a percepção da realidade.


IMAGEM: Google

Para acessar o vídeo no Youtube, acesse o link:

O primeiro ponto que discorrerei a respeito é o que o filósofo decreta que a forma trivial de percepção da realidade, que abrange todos os seres humanos, se baseia no passado. A mente humana está sempre a observar o passado. E a dar autorização para que outrém lhe induza o jeito de observar.

Quando olhamos para as coisas, as identificamos com base em um nome. Esses nomes e todo conhecimento acerca da coisa observada foram nos passados por terceiros. A família no primeiro momento, a Igreja, as escolas, a Mídia, os governos e outras instituições.

Com isso olhamos, por exemplo, para uma árvore, e a chamamos de árvore porque assim nos ensinaram. Se além disso, conseguimos distinguir o tipo de árvore e o chamamos pela distinção – se uma mangueira ou um coqueiro por exemplo –, o tipo de fruto que ela dá, se o mesmo é comestível ou não, se a árvore está desfolhada, o que nos remete a novas informações como a estação do ano em que estamos, tudo isso nos foi doutrinado. Apreendemos essas informações, formando memória, em dado momento no passado, e as resgatamos sempre que temos que observar uma árvore.

Logo, o ato de observar, dentro dessa descrição sugere que sempre olhamos para a nossa memória e não para a coisa sendo fitada, a fim de identificá-la e dentre outras atividades realizar medições e ou julgamentos. Sempre que recorremos à memória, naturalmente a mente foca no passado.

E conforme Krishnamurti, e eu concordo com ele, o contato com o passado nos conduz à sofrimento. Mesmo quando a lembrança nos traz durante um tempo fragmentos de prazer ou até prazer intenso. O prazer fatalmente se transforma em dor quando não se pode mais fazê-lo durar.

E o prazer que remetemos a ele através da memória torna ainda mais penosa a dor, pois, muitas vezes são situações que não podem ser vividas novamente, como as peripécias inerentes de quando se é menino, ou situações que no exato momento em que vem a lembrança não se pode contar com tudo que há nela, tanto objetos quanto pessoas e outros seres, para se experimentar na realidade material do jeitinho que foi na época recordada.

Se quisermos observar realmente as coisas como elas são, temos que manter o foco no presente e nos despir de toda informação que recebemos no passado, que forma o que seria o conhecimento que temos e a impressão acerca de cada componente da observação que fazemos. E acaba por nos dirigir o comportamento a seguir.

Cada momento que observamos é totalmente novo. Tudo o que há na observação é novo. Ainda que seja uma pessoa com quem convivemos diariamente.

Tendo consciência disso, não precisamos resgatar da memória as informações nos passada para decidirmos como desfrutar do momento. Fazemos valer livre arbítrio e a qualidade de seres individuais que somos. 

Destrói-se assim as instituições que precisam que o ser humano tenha suas crenças condicionadas à suas doutrinas, é bem verdade. A mais específica delas seria a religião. E as ideias de Deus ou até mesmo de Eu Superior são perdidas diante à persuasão com que se é naturalmente abordado para obter a constatação de que a matéria não existe e por isso nada pode ter sido originado e nada pode ser destruído, apenas transformado. Tudo é experiência e esta é atual, atemporal e até não local.

De modo que vida após a morte também seja inconcebível. Faz mais sentido acreditar que a consciência é que é eterna, porém coletiva, e independe de um corpo físico para se manifestar. Só precisa que uma experiência seja sentida. Somente o percebimento existe.

Quem observa faz parte da observação. De maneira que a coisa observada é o observador ou o observador se torna a coisa observada por estar contido nela. E isso se dá logo que se é tomado por sentimentos causados pela experimentação. Tudo que observamos nos leva a sentimentos e é para o fim de usufruirmos deles que, consciente ou inconscientemente, observamos.

É claro que não é necessário ir ao extremo. Não é necessário correr o risco de morte por comer um fruto que por meio das informações adquiridas já se sabe ser venenoso. Não precisamos começar do zero se optarmos por existir com plenitude da consciência. O ideal é usar o que já se conhece apenas para dar suporte ao ato de atenção plena.

Quando se alcança esse tipo de percepção da realidade chamado de atenção plena se experimenta sensações indescritíveis. A simples atenção no momento é a fonte da verdadeira alegria. É como se estar a meditar a todo instante. Nenhuma frustração ou sentimento negativo se prova, uma vez que não se recorre à memória para se fazer medições ou análises sobre o que é visto ou sentido por meio dos outros sentidos.

Nenhuma imagem se forma na mente para ser guardada e ser resgatada posteriormente. Não se fotografa o momento. É sabido que se trata de um instante único, que não poderá ser repetido e nem mesmo será pretendido que o seja.

A sensação experimentada dessa forma é invariável e recorrente. Será sempre a mesma sensação toda vez que se mantiver foco no agora, toda vez que se tiver atenção plena. Por isso é inútil guardar na memória registros do momento, se sempre que tivermos intenção de reviver as sensações experimentadas nele basta-nos focar no agora. E é para reviver sensações que criamos memória.

Ensinar como é essa forma de observar é inútil. É o mesmo que negar o axioma que prega que para executá-la é necessário despir-se do passado e destituir-se de dar autoridade para alguém condicionar a observação. A experiência tem que ser completamente pessoal. E totalmente presente. Levando-se em conta pouca coisa do aprendizado já obtido.

O que alguém pode fazer no sentido de ajudar outro a manter atenção plena é contar como acontece consigo. Eu, por exemplo, olho para o horizonte como se estivesse olhando para um quadro que apresenta bidimensionalmente uma paisagem. Nele, tudo está misturado em tinta sobre uma superfície imprimível. As nuances das cores é que define o que o pintor quis que fosse entendido como elemento reconhecido da natureza.

Algo importante de se dizer é que as palavras não são as coisas. E nem estou me referindo ao fato de uma mesma palavra em línguas diferentes poder significar coisas diferentes ou coisas distintas poderem ser designadas com palavras diferentes conforme a Língua.

Devemos ter em mente que os demais seres vivos não dão nome para as coisas com que interagem. Tomam suas decisões com base no que observam e no ato de observar. Comunicam-se uns com os outros, até mesmo entre espécies, usando a comunicação universal, que é a da vibração emitida pelo próprio corpo, quer seja através de sons, mímicas ou outro meio de se exteriorizar o que está na mente.

Supõe-se, então, que mesmo que possamos qualificar certas observações que fazemos dos outros entes senscientes como instantes de profunda dor ou privação, a qualidade de vida deles, do ponto de vista do gozo de suas experiências, é maior do que a dos seres racionais, pelo simples fato de a todo ínterim manterem atenção plena, viverem o agora.

Por ter desenvolvido linguagem verbal estruturada para expressar seus pensamentos, construído ciências e ter a capacidade de explicar a si memo não torna o homem melhor do que os outros seres senscientes. O que o Homem conseguiu com isso não o coloca mais inteligente do que os outros seres providos de inteligência básica. Se um dia a vida humana acabar na Terra, preservando no entanto os outros seres, tudo para estes continuará como está. E durará por muito mais tempo sem a interferência humana em sua evolução ou em seu habitat destruindo ecossistemas.

O fato de haver selvageria só é observado por quem classifica como selvagem certos costumes, geralmente alimentares. Quem classifica é que se importa com classificações. Nem mesmo as presas dos predadores deixam de gozar vida intensa por manter a atenção no agora e dispensar linguagem verbal estruturada ou raciocínio considerado lógico pelo Homem. Sequer têm noção do que é selvageria ou de que poderiam viver com mais segurança tendo eliminado o predador.

Em atenção plena se olha para o Sol sem dar nome para ele. Apenas o fita, o contempla e se sente a experiência disso. O mesmo vale para o céu, as núvens, as árvores, as serras, as casas e até as pessoas e animais que atravessam o horizonte contemplado. Tudo fica misturado como no quadro artístico mencionado.

Nosso modo tradicional de observar faz com que separemos cada elemento componente do nosso observar. Separamos, o tornamos tridimensional, e em seguida recorremos à memória para identificá-lo, chamá-lo pelo nome, medí-lo, julgá-lo, para só então tomarmos decisões sobre que comportamento adotar. Só depois é que nos vêm emoções, que geram pensamentos, que nos embebem de sentimentos e por fim nos fazem Ser ou Estar. Comparado com quem vive com a atenção plena: vivemos com um certo delay, enquanto este vive em tempo real. Vivemos sempre no passado.

Aquilo de uma observação que é separado se apresenta como partícula para o observador. É particularizado, se torna particular, se manifesta à percepção, se identifica. Aquilo que é visto sem expressão ou o que não é percebido se apresenta na forma de onda, sem manifestação para os sentidos materiais, exceto a intuição.

A energia escura é o que nos dá maior capacidade de descrever algo que esteja se comportando como onda. Se pegarmos o sentido da visão, tudo o que conseguimos ver e identificar está se comportando como partícula, está se manifestando. É, portanto, para nós, com mais convicção, matéria.

Mas, o que se encontra fora do campo da visão não quer dizer que não está ali. Não conseguimos ver o que está às nossas costas. Isto, então, se comporta como onda, fora da atenção.

Essa analogia vale para todos os outros sentidos. No caso do som ou do olfato, podemos ouvir ruídos e sentir odores ou aromas que vêm de áreas que não podemos ver, como o que está atrás de nós por exemplo. Mas, só percebemos o que se comporta como partícula.

O som ou o cheiro que ganha atenção se comporta dessa maneira. Os demais ruídos que não separamos ou identificamos se expressam na forma de onda. Ou seja: não se manifestam, não ganham atenção.

O tato tem comportamento especial: aquilo que tocamos e sequer sabemos que havemos tocado, na maioria das vezes por não conhecermos sua textura ou estarmos com falta de sensibilidade tactil, passa por nós como uma onda.

Quanto aos sentidos humanos, a intuição é peculiar. O próprio sentido se comporta como partícula ou como onda. Quando intuimos algo, a intuição, então, está se manifestando, se expressando como partícula. E quando ela ocorre latentemente, nenhuma mensagem partindo dela vem à superfície da mente como um insight, uma comunicação intuitiva ou um sonho, a intuição se expressa como onda.

Se o subconsciente existe, cuidando em segundo plano das funções vitais do corpo, é cabível dizer que ele opera como onda. Somente quando resolvemos dar atenção à própria respiração ou ao próprio batimento cardíaco é que o faríamos expressar-se como partícula. Entretanto, o que evidenciamos na verdade nesses casos são as funções desempenhadas pelo inconsciente.

No momento de contemplação, o corpo vibra em sintonia com a vibração própria da contemplação. E tudo se transforma em energia pura, em uma coisa só, unidimensional. O tão falado pelos místicos: “Todo”, a totalidade. É nesse estado que se reconhece o verdadeiro sentimento de amor, a vibração do amor, a paz, o equilíbrio, o bem-estar, a saúde, a prosperidade.

O todo envolve a cena observada e nós, os observadores dela. Incluindo os pensamentos que mantemos, a própria consciência e a inconsciência. Tudo isso é uma coisa só, que está dentro do planeta Terra, que por sua vez está dentro do Sistema Solar, da Via Lactea, do Universo por completo.

Tudo é expresso em energia pura quando livre do pensar. Quando experimentado com atenção apenas, com presença à disposição de experiências. Os astros perambulando no Cosmos estão tendo dessas experiências, assim como nós na Terra e também os que habitam o microcosmos.

E isso é o que se pode chamar de equilíbrio ecológico e existência farta de prosperidade e de alegria intensa. E está ao alcance de qualquer ser humano.

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